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Bobo da corte

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Bobo da corte

Bobo da corte, bufão ou bufo[1], era o "funcionário" da monarquia encarregado de entreter o rei e rainha e fazê-los rir. Muitas vezes eram as únicas pessoas que podiam criticar o rei sem correr riscos, uma vez que sua função era fazê-lo rir, assim como os palhaços fazem nos dias atuais.

Os bobos da corte iniciais eram populares no Egito Antigo e entretinham os faraós egípcios[2]. Os antigos romanos tinham uma tradição de bobos profissionais, chamados balatros.[3] Eles eram pagos por seus gracejos, e as mesas dos ricos geralmente eram abertas a eles por causa da diversão que eles proporcionavam. Bobos da corte também eram populares entre os astecas entre os séculos XIV e XVI.[4]

Em diversas cortes ao redor da Europa empregavam indivíduos como bobos da corte para realizar diversos serviços de entretenimento, isso incluía comedia, cantar, dançar, tocar instrumentos, contar histórias, fazer poesias, realizar acrobacias, malabarismos e entre outras coisas. Em alguns casos eles também eram empregados em outros serviços secundários, o bobo da corte Perkeo, por exemplo, realizava além de suas funções como bobo as de copeiro, mordomo e cuidava do armazenamento de vinho do castelo.[5]

Bobos da corte muitas das vezes também seguiam seus reis para o campo de batalha, ocupando diversas funções como mensageiro entre os lideres militares, entreter e acalmar as tropas com musicas e piadas, provocar as tropas inimigas na tentativa de os fazer atacar prematuramente.[6] Em certos casos os bobos até acompanhavam seus mestres para a luta, como no caso das tribos celtas irlandesas onde eram esperado que o bobos lutassem ao lado de seus lordes ou os seus representantes.[7]

Na corte Inglesa

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Diversas cortes durante a história britânica tiveram bobos da corte, um dos mais conhecidos é o bobo do rei Henrique VIII, William Sommers, um bobo da corte natural muito popular não só com o rei mas também com suas filhas, continuando na corte após a morte de Henrique VIII se aposentando apenas durante o reinado de Isabel I. A filha de Henrique, Maria I da Inglaterra também tinha um bobo da corte, uma mulher chamada de Jane Foole, mesmo com as crueldades da corte Tudor, Maria mostraria ser bastante carinhosa com Jane. Não a registros sobre Jane Foole após a morte de Maria I.[7]

Enquanto sem muitas provas que diferencie os bobos da corte franceses do resto da Europa, é possível notar um certo favorecimento em relação aos que serviam a reis franceses ganhando quartos luxuosos, muitos presentes e recebiam salários mensais. [8]

Um dos bobos da corte franceses mais famosos, Triboulet, serviu na corte de Francisco I de França, ele era conhecido por fazer piadas insultuosas que se não fosse pelo senso de humor do rei, Triboulet provavelmente seria punido.[9] O nome Triboulet também foi usado por outros 2 bobos da corte antes do que serviu Francisco I, inclusive seu antecessor, Luís XII, possuía um bobo com o nome Triboulet, o que fez com que ambos fossem posteriormente confundidos como a mesma pessoa.[10]

Mathurine de Vallois é outro exemplo de um grande bobo da corte francês, servindo aos reis Henrique III de França, Henrique IV de França e Luís XIII de França. Conhecida por usar roupas extravagantes semelhantes a uma guerreira amazona[11], um dos episódios mais famosos em que esteve presente foi na tentativa de assassinato do rei Henrique IV em 1594, onde Mathurine teria prendido Jean Châtel, o jovem que tentou assassinar o rei:

Foi Mathurine quem prendeu o jovem que tentou assassinar Henrique IV, no dia 28 de dezembro. Este jovem, que entrou despercebido no apartamento, atacou o rei com sua adaga. “O diabo leve essa tola com seus truques”, gritou Sua Majestade… Mathurine saltou para a porta e, barrando a passagem, impediu a fuga do agressor do rei.[12]

O Taikomochi serviam aos daimiôs (lordes feudais japoneses) entre os séculos XIII e XVIII. Entretinham principalmente através de danças e contando histórias engraçadas, fornecendo também conselhos pessoais. No século XVI eles também começaram a dar conselhos militares e participar de batalhas junto a seus senhores. Os Taikomochi começaram a entrar em declínio a partir do século XVII quando um período de paz se instalou no Japão e as primeiras gueixas começaram a aparecer, já no século XVIII o número de gueixas superava e muito o de Taikomochi.[13]

Características

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Processo de seleção

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A forma como alguém era escolhido a se tornar um bobo da corte variava muito, principalmente pelo fato de qualquer pessoa poder assumir a função. Bufos poderiam surgir de qualquer lugar e posição, poderiam ser tanto alguém com experiência com poesia e musicas quanto o filho de um camponês sem experiência com entretenimento. Eles também poderiam ser encontrados de variáveis formas, poderiam ser entregues como presentes, encontrados durante viagens ou até recomendados por pessoas próximas da corte.[14]

Divisão em naturais e artificiais

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Em diversos locais na Europa os bobos da corte foram divididos em dois grupos: Os bobos naturais e os bobos artificiais[15]. Os bobos da corte naturais eram pessoas com algum tipo de deficiência, transtornos mentais ou apenas intelectualmente atrasadas. Os bobos artificias por outro lado pretendiam agir de uma maneira exótica ou boba para entreter, com isso estariam de forma intencional realizando o ato de entretenimento, diferente dos bobos naturais que viria de maneira não-intencional, sendo geralmente de seu comportamento, falas ou aparência.

Aposentadoria

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Bobos da corte poderiam sair de suas funções e se aposentar por idade, anos de serviço ou por decisão do próprio monarca. Ao se aposentarem eles poderiam receber aposentadorias variáveis dependendo da sua proximidade com o rei e seus serviços, enquanto Roland the Farter, o bobo da corte do rei Henrique II de Inglaterra recebeu um "Serjeanty" de 12 hectares[16], uma espécie de feudo dado pelo rei como agradecimento por prestarem serviços a ele[17], outros recebia pequenas esmolas, algumas não eram o suficiente para sobreviver levando a muitos ex-bobos da corte, principalmente naturais, a terminarem suas vidas como mendigos.[6]

Lista de bobos da corte notáveis

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Referências

  1. Sinônimo de bobo Sinônimo Online - acessado em 2 de outubro de 2020
  2. «Fool | Court Jester, Clown & Trickster | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 19 de julho de 2024 
  3. Hor. Sat. i. 2. 2. (cited by Allen)
  4. «Jester». Encyclopædia Britannica. Consultado em 7 de junho de 2012 
  5. Kelly, D. B. (26 de dezembro de 2020). «What It Was Really Like To Be A Court Jester». Grunge (em inglês). Consultado em 19 de julho de 2024 
  6. a b «What was life like for a court jester?». HistoryExtra (em inglês). Consultado em 19 de julho de 2024 
  7. a b SOUTHWORTH, John (1998). Fools and Jesters at the English Court. [S.l.]: The History Press. ISBN 9780752479866 
  8. WELSFORD, Enid (1961). The Fool: His Social And Literary History (1961). Nova Iorque: FARRAR & RINEHART Incorporated. p. 120 
  9. FRIEDA, Leonie (2018). Francis I: The Maker of Modern France. [S.l.]: HarperCollins Publishers. ISBN 9780061563096 
  10. Berthon, Guillaume (1 de dezembro de 2012). «« Triboulet a frères et sœurs » – Fou de cour et littérature au tournant des XVe et XVIe siècles». Babel. Littératures plurielles (em francês) (25): 97–120. ISSN 1277-7897. doi:10.4000/babel.2009. Consultado em 20 de julho de 2024 
  11. November 3, Richard; Pm, 2019 6:22 (26 de outubro de 2019). «What was It Actually Like to Be a Court Jester in Medieval Times?». Today I Found Out (em inglês). Consultado em 20 de julho de 2024 
  12. Leslie, Frank (1883). Frank Leslie's Popular Monthly (em inglês). [S.l.]: Frank Leslie Publishing House 
  13. Kawanami, Silvia (4 de junho de 2013). «Taikomochi, a versão masculina das gueixas». Japão em Foco. Consultado em 19 de julho de 2024. Cópia arquivada em 23 de fevereiro de 2024 
  14. OTTO, Beatrice K. (2007). Fools Are Everywhere: The Court Jester around the World. [S.l.]: University of Chicago Press. ISBN 9780226533315 
  15. Best, Michael. «Jesters and fools :: Life and Times :: Internet Shakespeare Editions». internetshakespeare.uvic.ca. Consultado em 19 de julho de 2024 
  16. Sahir (10 de janeiro de 2023). «Roland the Farter: Medieval England's Celebrity Flatulist». Ancient Origins Reconstructing the story of humanity's past (em inglês). Consultado em 20 de julho de 2024 
  17. «Sergeanty | Feudal Tenure, Land Grants, Vassalage | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 20 de julho de 2024 

Ligações externas

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